A liberdade conquistada em abril de 1974 veio por fim ao conceito de preso político, um individuo que ao exprimir a sua discordância com o regime era encarcerado numa prisão.
Considero-me um leigo no assunto, no entanto, a prisão de José Sócrates, primeiro-ministro português entre 2005 e 2011 e com um enorme poder de oratória, é, para mim, mais do que uma injustiça, uma questão política.
(Será coincidência a detenção de Sócrates na véspera da eleição do secretário - geral do Partido Socialista?)
"Prende-se para melhor se investigar. Prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode "perturbar o inquérito". Mas prende-se, principalmente, para despersonalizar. Não, já não és um cidadão face às instituições; és um "recluso" que enfrenta as "autoridades": a tua palavra já não vale o mesmo que a nossa. Mais que tudo - prende-se para calar."
Excerto carta de José Sócrates.
Acontece que nem a prisão, nem a comunicação social, nem tão pouco os seus opositores calaram Sócrates. Este senhor, de personalidade forte e convicções assertivas, foi vítima de um julgamento em "praça pública" através da difamação da sua imagem, dias a fio, na abertura de todos os noticiários e capas de jornais e revistas.
Este caso, expõe ainda um "novo" conceito: segredo de justiça. Onde está o segredo que a teoria quer transparecer aplicado na prática?
Não acredito na total inocência de Sócrates pois não quero acreditar que a justiça nacional está tão mal ao ponto de prender um inocente, todavia, acredito que a medida de coação, imposta durante seis meses a este cidadão, é tão injustas quanto exagerada.
Creio que perante a lei, um suspeito tem direito à liberdade até à condenação e direito à dignidade toda a vida.
A justiça precisa urgentemente de uma reforma
Sócrates não é mais do que um preso político, claramente noutra dimensão comparativamente aos anos que antecederam abril de 1974, mas com semelhanças significativas.
Felizmente, a justiça veio dar razão ao Homem, a dignidade humana vingou e hoje José Sócrates está livre!