Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

A cultura assume um papel extremamente importante nas sociedades, é a forma como um povo se identifica e é também uma herança social. É a cultura que nos distingue como povo e que nos torna únicos, que nos enche de orgulho a cada oportunidade de a mostrar ao mundo.
Entre as inúmeras formas de manifestação cultural, o folclore surge como um género de cultura popular que se debruça sobre as tradições e os costumes, é muito associado às festas da aldeia e às romarias e relata, por exemplo, o trabalho da lavoura - quando em meio rural - ou da faina - em zonas costeiras.
O contacto com outras culturas enriquece-nos, permite-nos perceber que existe uma enorme diversidade cultural, que merece ser respeitada e valorizada, promovida e partilhada.
Neste sentido, o Conjunto Etnográfico de Moldes, habituou os arouquenses, desde há 35 anos, a conhecer, através do Folclore, as diferentes histórias e tradições de inúmeras regiões do mundo, das mais centrais às mais remotas, nunca esquecendo a sua forma de expressão e o seu traje tão singular.
Trouxeram a Arouca aquilo que de mais genuíno as regiões têm, trouxeram tradição, cultura e alegria.
Sob o mote da descentralização, a 35° edição do Festival Internacional de Folclore de Arouca levou vida ao centro das aldeias, a juntar aquela que tão intensamente se vive em meio rural.
Construíram-se marionetas, envolvendo os jovens e, no Largo da Capela de Ponte de Telhe, contaram-se histórias em forma de teatro de Marionetas: Dom Roberto.
Este ano, polacos e sérvios trouxeram cor e ritmo à Praça Brandão de Vasconcelos, dançaram, animaram e no fim convidaram os espetadores a aprender os seus passos e a brilharem com eles.
Da Covilhã a Escalos de Cima, de Espanha a Vila do Conde e da Lituánia a Moldes, todos os grupos enriqueceram a última noite do festival, e, desta vez no Terreiro de Santa Mafalda, respirou-se cultura e tradição e dançaram-se histórias.

Já o poeta dizia que "O homem sonha e a obra nasce" e assim acontece, ano após ano, com o Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses, que com 72 anos de existência e 35 de organização deste festival provou que com pouco é possível fazer-se muito e com muita qualidade e que é possível também, crescer e fazer sempre melhor a cada ano.
Só assim, com um grupo profissional e dedicado, é que se consegue manter viva a tradição, a cultura popular e tudo o que nos distingue dos demais enquanto povo rural. Só assim se mantém a memória viva.

A todos eles, o desejo da continuidade.
Para o ano marcamos encontro no 36° Festival Internacional de Folclore de Arouca.
Fotografias: Avelino Vieira
Finda mais uma edição deste grandioso evento que encheu Arouca de forasteiros, eis que chega o tempo do balanço e dos agradecimentos.
Arouca, viajou para trás no tempo, o mosteiro voltou a ser ocupado por monjas, damas de companhia, noviças, meninas de coro e moças, que no espaço de clausura, viveram mergulhadas no silêncio, este, quebrado apenas pela água da fonte e pelo Regina Caeli entoado nos claustros. 

As monjas reuniram no capítulo para debater o presente e o futuro do convento, elegeram a nova abadessa e receberam os seus familiares nos locutórios. Com autorização papal, puderam aceder à igreja, onde adoraram o corpo e túmulo de Dona Mafalda.
Com medo da aproximação dos franceses ao couto de Arouca, a mestre do cartório pediu que o Capitão Vaz Pinto lhe protegesse alguns dos arquivos que pudessem comprometer a legitimidade do mosteiro e no celeiro, a madre deu ordem para carregar as riquezas do mosteiro para a fuga.

Em silêncio, freiras e moças fugiram do espaço de clausura com a ajuda dos populares e dos guardas do reino, mesmo antes de rebentar o confronto peninsular.
Na enfermaria viveram-se momentos de dor e de sofrimento, na cozinha prepararam-se as refeições e confecionaram-se doces. Na botica prepararam-se remédios, na sala da cera, as criadas prepararam as velas para as procissões, nos claustros limparam o chão e trataram dos jardins e na sala da aprendizagem, as meninas de coro aprenderam a pintar, a cantar e a bordar. 

No exterior, o pregoeiro montou o seu cavalo e convidou todos para as festas da vila, a charamela abriu as festividades e o povo viveu, trabalhou nos seus ofícios, e por estes dias, festejou a beatificação da sua Rainha.
O arquiteto Gimac, dos melhores que o reino já conheceu, apresentou os seus planos à Abadessa e visitou as obras de cantaria.
Frei Simão de Vasconcelos foi preso e escoltado pelos soldados do reino, que mantiveram a paz na vila.
Contaram-se histórias de qualidade em forma de cordel e os nobres foram surpreendidos por assaltantes.
Os saltimbancos deram cor e os bombos trouxeram ritmo à festa. As bandas musicais saíram à rua e entraram em despique.




Nenhum evento se faz sem trabalho, sem dedicação e sem compromisso e é por isso que é impossível atribuir "louros" a outros que não sejam os mais de trezentos figurantes, que "vestiram a camisola", com empenho, entrega e profissionalismo e fizeram com que a vida de outrora viesse até ao século XXI.
É de louvar todo o trabalho desenvolvido pelo Miguel Brandão e pelo Hélder Antunes, na escrita de todos os textos que deram vida e abrilhantaram esta edição do evento.
A essência desta recriação é fruto do trabalho e dedicação de todos estes figurantes, deste capital humano, que é o melhor que Arouca tem.
Um agradecimento aqueles que trabalharam comigo, como voluntários, na direção de cena desta Recriação, a Isabel Vale e a Patrícia Fernandes.
À equipa da Câmara Municipal, um agradecimento a todos os técnicos que trabalharam em prol do sucesso desta edição da Recriação, em especial aqueles que desenvolveram um trabalho de bastidores, isento, rigoroso e longe das luzes, nomeadamente a quem vestiu todos os figurantes, com conhecimento e rigor e à equipa de comunicação.

Na esperança de termos, em anos vindouros, uma Recriação Histórica 100% de Arouca para o mundo, aguardemos agora a edição de 2018.


 Um bem haja, a todos quantos fizeram parte desta história.