É na seleção que os portugueses gritam a uma só voz, sem clubismos nem rivalidades. É o desporto rei o único a conseguir parar e unir o país.

Jogo após jogo, o nosso amor a Portugal vai crescendo. Ser português é ter todo o tempo do mundo e mesmo assim deixar tudo para o último minuto.

Hoje vivemos, mais uma vez, o sonho de estar na fase final do campeonato da Europa. Se acredito? Acredito. Acredito porque merecemos esta alegria.

A geração Scolari começou, em 2004, um sonho e é esse sonho inacabado que nos falta cumprir. Está na hora de substituir as bandeiras que hoje, ainda que envergonhadas e sem cor, estão nas janelas e nas varandas deste país. Substitui-las por novas, onde o vermelho da paixão e o verde da esperança enalteçam a esfera armilar e mostrem o nosso verdadeiro amora Portugal.

Temos tudo para vencer, uma equipa de sucesso e 11 milhões que creem, que choram, que gritam, que se arrepiam e que vivem a seleção.


Se há 12 anos começamos a sonhar com a Europa, este é o ano, o nosso ano e se tivermos de esperar pelos últimos minutos, esperaremos, com um aperto no coração mas com a mesma esperança que outrora Bartolomeu Dias teve ao dobrar o Cabo das Tormentas.

Porque não acreditar em Portugal?

Porque não acreditar que é possível a vitória, a fama e a glória?

Julgamos a nossa seleção por não ter vencido nenhum jogo da fase de grupos quando, num passado recente, no mundial de 1982, a Itália empatou todos os jogos na 1 ° fase e depois venceu, jogo após jogo, e conquistou o mundo, vencendo a competição.

Sofrer até ao último minuto faz parte do orgulho português e esse orgulho é aquilo que nos torna mais fortes. Podiam ter sido só vitórias? Podiam mas é este o nosso fado.

 É desejo comum a vitória, é o sonho de todos os portugueses, principalmente os que ainda têm atravessado na garganta o Euro 2004, que ainda têm a vontade de vingar todas as vezes que estivemos quase lá e por infortúnio não conseguimos vencer.

 Somos lutadores, temos o sangue na guelra e um forte aperto no coração quando o tempo passa e ainda não estamos a ganhar.

Há muito que temos a fome de vencer, a garra, o sonho e se juntos somos mais fortes, é juntos que temos de cantar, a uma só voz, o nosso hino, o nosso amor à pátria e aí sim, mostraremos ao mundo que somos o povo da ocidental praia Lusitana e que a nossa pequenez geográfica é capaz de conquistar a Europa.

Tiago Pinho tem 16 anos, nasceu a 15 de outubro de 1999 e estuda Línguas e Humanidades na Escola Secundária de Arouca.
As nossas árvores genealógicas cruzam-se nos primórdios da nossa descendência, o que nos torna, para todos os efeitos, primos afastados.
Apaixonado pela arte de representar e de escrever poesia, é membro do Movimento Juvenil Salesiano de Arouca, é um grande amante de futebol e os seus clubes são o Futebol Clube de Arouca, onde é atleta e o Sport Lisboa e Benfica.
Autor do prefácio do meu primeiro livro e coautor da peça de teatro “Duas a Bordo”, projetos não lhe faltam a curto e longo prazo.
Nesta entrevista, o Tiago, sui generis.

1. Como é que tens tempo para tanta coisa?
   Fazem-me esta questão muitas vezes, mas eu respondo sempre da mesma forma, tento aproveitar o tempo da melhor forma. Gosto de participar no maior número de atividades possível porque isso só me enriquece a nível pessoal e educacional. É certo que é muito desgastante e complicado para mim, porque há dias que eu saio de casa por volta das 8 da manhã e só chego ao fim da noite, mas eu gosto de viver assim. E ainda bem que consigo preencher os meus dias da melhor forma, temos de aproveitar a vida ao máximo…

2. Qual é a importância que tem para ti fazer parte do Movimento Juvenil Salesiano de Arouca?
É um grupo que eu adoro do fundo do meu coração, quase já nem consigo viver sem eles…
Gosto muito do espírito e da alegria do grupo, tenho um grande gosto em participar nas atividades que realizamos, e adoro todas as pessoas de lá…
Além de tudo isto, adoro ser ADS (Alegre, Dinâmico e Serviçal) e sinto que a minha vida fica mais completa e alegre por pertencer a este maravilhoso e encantador grupo. Agora vou parar com os elogios porque tenho a certeza que se um deles estiver a ler isto já tem baba no teclado do computador…





















Conheço o Tiago como aluno do agrupamento e como animadora do Movimento Juvenil salesiano de Arouca. O Tiago é um jovem extraordinário, dos jovens mais disponíveis, simpático e amável que conheço. A veia artística dele é fora do vulgar. O Tiago é um exemplo do que deve ser um jovem. É para mim um orgulho ser amiga do Tiago.
Teresa Oliveira

3.Falta aos jovens esta entrega a movimentos como este?
   Claro que sim, este tipo de movimentos faz-nos crescer como pessoa, aprendemos valores muito importantes para a nossa vida. Tenho a certeza que se experimentarem vão adorar estes movimentos porque para além de nos divertirmos estamos a aprender. Se existissem mais jovens com a vontade de ajudar e praticar o bem, coisa que fazemos neste grupo, com certeza que vivíamos numa sociedade bem diferente da atual.

 4.Como defines Arouca?
Arouca é um lugar indiscritível, eu adoro viver aqui, isto pode parecer um pouco estranho, mas para mim Arouca é, sem sombra de dúvidas, o melhor sitio do mundo. É claro que me perguntam se não preferia viver num sítio mais urbanizado e com mais serviços disponíveis... mas a minha resposta é “claro que não!”.  Eu prefiro muito mais viver nesta pequena grande vila do que numa grande cidade.
Arouca é uma terra única, pela sua natureza, pela sua gastronomia, pela sua história, pelo seu futebol, pelo seu património, pela sua magia, nem adianta continuar a destacar as riquezas que temos porque todos nós sabemos o que esta terra vale…

5. O que é que lhe falta?
   Tenho a certeza que se fizesses esta pergunta à população arouquense mais de 90% ia responder a variante. E eu sou uma dessas pessoas. Mas apesar de todas essas “pequenas” coisas acho que Arouca tem tudo o que é preciso para ser um lugar único, aliás eu nem sei se era preciso tanto… A nossa terra está a evoluir muito rapidamente e tenho a certeza que daqui a alguns anos este concelho será um dos melhores do país.





O Tiago é um rapaz diferente do habitual na geração dele.
É muito dinâmico e empenham-se a sério em tudo o que faz.
Já o conheço há muitos anos, somos praticamente vizinhos e a mãe dele trabalha em minha casa também há imensos anos. Desde aí, o Tiago vinha muitas vezes com ela, o que ajudou bastante para nos tornarmos amigos.
Tiago tem dois lados por assim dizer. Um lado mais brincalhão, onde faz tudo para pôr os amigos a rir (e consegue) e um lado mais sério, no que toca a assuntos que ele adora, como por exemplo a política, a poesia, a cultura e tudo o que isso envolve.

João Ferreira

6. Representaste Arouca nas Distritais do Parlamento de Jovens 2016 e participaste no concurso de jovens Empreendedores. Qual é a importância destes eventos?
   Como já disse anteriormente, gosto muito de participar neste tipo de atividades porque são fundamentais para o meu desenvolvimento como pessoa, gosto de ser um cidadão ativo e acho fundamental ter uma participação dinâmica na nossa sociedade. Além disso, é um motivo de orgulho para mim representar o nosso concelho onde quer que seja.

7. Apresentaste recentemente o Sarau Express Art da Escola Secundária de Arouca. Qual é a importância que isso tem para ti?
   Foi mais uma boa experiência. Adoro comunicar em palco e aceitei logo este convite. É claro que prefiro representar do que apresentar, mas adorei a experiência.



8.És apaixonado pela representação. Em que é que ela te completa?
   Ela completa-me em tudo. A representação sempre fez parte da minha vida e sempre fará. Eu só me sinto verdadeiramente completo e feliz quando represento, é uma coisa que eu amo fazer, o teatro, especialmente, é um dos grandes amores da minha vida. O meu maior sonho é conseguir viver da representação, sei que será muito difícil, mas eu sou ambicioso e com trabalho e dedicação tudo é possível.

9.E na escrita, o que é que te leva a escrever poesia?
   Desde pequeno que a poesia sempre me cativou. Apesar de gostar imenso de todos os géneros literários, este sempre mereceu especial destaque. Em relação à escrita, faço-o desde pequeno, é algo que eu adoro. Mas na minha opinião eu nunca escrevi um poema, eu apenas escrevo umas rimas, a poesia é escrita por poetas, e eu ainda estou muito longe de ser um poeta.

Numa palavra ? Seria energúmeno mas acho que não se enquadrava! Agora a sério o Tiago sempre foi um amigo ajudou me sempre que precisava , é um garoto muito trabalhador mas acho que adjectivo que o caracteriza melhor é " humilde ".
Sempre fez tudo o que precisei , com um sorriso na cara o que é fantástico.
Roberto Ferreira


10. Escreveste que é gratificante para ti ser português, porquê?
   Eu amo o meu país, em todos os aspetos. Sou talvez das pessoas mais patriota que existe. Eu defendo muito o meu país, para mim ele é o melhor do mundo. Apesar de sermos um país pequeno, somos um país muito rico, não a nível económico como todos sabem, mas sim a nível cultural, patrimonial, entre outras coisas. Apesar de todas as dificuldades, eu não trocava o meu país por nenhum outro.

11. O que é que levas da experiência de jogar no Futebol Clube de Arouca?
   Já jogo futebol desde pequeno. O futebol é uma das minhas grandes paixões. Adoro, sobretudo, os meus colegas de equipa e jogar no “mítico” Afonso Pinto de Magalhães e representar as cores arouquenses é uma grande honra. É obvio que eu não nasci para ser jogador de futebol mas é um desporto que eu amo muito.

12. E de treinar miúdos no torneio de verão?
   É uma coisa que eu também adoro. Já que não sou o melhor jogador do mundo pelo menos tento ensinar o pouco que sei. Ainda por cima represento a freguesia que eu tanto gosto, o Burgo.

13. És dos jovens mais influentes da tua geração, porque é que achas que és visto assim?
   Não sei mesmo onde é que foste buscar esta ideia oh André. Não me considero, de todo, um jovem influente na minha geração. Se alguém pensa isso será talvez por eu ser um pouco diferente dos outros jovens. Além disso, pertenço a muitos e grupos e pratico muitas atividades. Podes vir com o argumento de que sou engraçado, mas eu não me considero uma pessoa muito cómica, a única pessoa que se ri sempre das minhas piadas será talvez a minha avó, e isto claro, se não se esquecer de meter a placa.

14. Tens projetos em andamento?
   Eu acho que se me fizeres essa pergunta todos os dias a resposta nunca será não. É claro que sim, tenho alguns (muitos) projetos em andamento. Atualmente estou envolvido num grande projeto relacionado com o teatro, outro com a escrita, e outros mais... (já nem sei bem quais são porque acabo sempre por me perder). Felizmente não me faltam ideias e criatividade. Já agora aproveito esta questão para agradecer aos meus pais por me terem feito com uma cabeça que apesar de ser composta em 99% de estupidez, ainda tem 1% que consegue pensar e ter umas ideias interessantes de vez em quando.

15. O que é que esperas do futuro? E onde é que te imaginas daqui a 10 anos?
   Esta é uma pergunta muito difícil para mim.                                        
  Sinceramente espero ter concretizado todos os meus objetivos. Tenho o grande sonho de viver da representação ou da comédia, apesar de ser um desafio praticamente impossível nos dias de hoje no nosso país. Apesar dessa dificuldade nunca vou desistir dos meus sonhos e vou continuar a trabalhar muito para tornar isso possível, mas eu acredito fielmente nas minhas capacidades.
   Daqui a 10 anos? Até me assusto só de imaginar a minha vida daqui a 10 anos…
  Vou ser honesto, eu não tenho a menor ideia de como vai ser a minha vida daqui a 10 anos, eu nem sequer sei o que é que vou fazer amanhã…
   Mas como sou um gajo otimista espero, se ainda não tiver batido a bota, estar feliz e satisfeito com os 26 anos de vida que tive.
   O melhor mesmo é convidares-me para fazer outra entrevista daqui a 10 anos, pode ser que eu já tenha feito alguma asneira em Angola e já seja pai, mas espero bem que não.


Não, não pode ser uma mera coincidência.

Não pode o euro 2016 começar no Dia de Portugal em vão.

Chegou a hora, chegou o ano da glória, chegou a vontade de vencer e de vingar todos os anos em que estivemos tão perto da vitória.

Nenhum outro se comparará ao nosso Euro 2004, esse que ainda hoje arrepia só de lembrar.

Memórias de uma nação que parou pelo futebol, que se uniu, que saiu à rua, que encheu estradas para ver passar o autocarro que transportava os nossos heróis, que pendurou com orgulho bandeiras nas janelas, que coleccionou a caderneta da Galp, que vibrou a cada golo marcado, a cada penálti defendido, sem luvas, pelo Ricardo, que se esvaiu em lágrimas, ora de alegria a cada conquista ora de tristeza por ver que aquele sonho acabava assim e que sobretudo viveu até ao fim aquele europeu como uma conquista.

Somos um país quente em emoção, somos um país que vibra pela sua seleção, nunca a deixamos porque na vitória somos um e na derrota 11 milhões que se apoiam.

Hoje vivemos o começar de um sonho em França, não quero crer que é uma coincidência pois, acredito verdadeiramente que o 10 de junho de 2016 ficará para a história, a juntar à que já se celebra, para a história de um país à beira mar plantado, que conquistou a Europa.

Se juntos venceremos, juntemos as cores da nossa bandeira, pintemos a Europa de verde e vermelho e cantemos a uma só voz o hino, o nosso hino, o nosso amor a Portugal.


Video: Guilherme Cabral - "Portugal - A Marcha de uma Nação"




Guilherme Duarte é um Engenheiro Informático de formação e...de profissão.

Rompeu com os ideais de que os informáticos são sempre calados e tímidos e conquistou a blogosfera com o mediático Por Falar Noutra Coisa.

Consegue aliar a crítica social ao bom humor e a crítica explicita nos seus textos já lhe trouxe ameaças de porrada e de morte, ao que parece não foram, até agora, consumadas.

Em 2015 publicou o seu primeiro livro, a convite da editora.

Hoje faz Stand-up e ideias para novos textos não lhe faltam.

Não gosta que o tratem por você porque o faz sentir velho, considera que dar gorjetas e ser cavalheiro é uma mera parvoíce e acredita verdadeiramente que há pessoas que não têm noção.

Por falar Noutra Coisa, o blogue, é já conhecido pela generalidade  dos portugueses, tendo conquistado um lugar no pódio entre os blogues mais vistos a nível nacional.

Nesta entrevista, o lado mais intimista do Guilherme... ou não!


Engenheiro informático de formação, onde é que entra o Humor?
O humor sempre esteve presente na minha vida, desde cedo que me lembro de ler Calvin & Hobbes ou de seguir religiosamente o Herman Enciclopédia. Sempre gostei de programas e séries de humor e nunca me imaginei a entrar nesse mundo sem ser como espectador. Há uns dois anos e pouco acabou por acontecer por acaso, criei o blogue e a página do Facebook, e fui escrevendo umas coisas. Experimentei fazer stand up comedy e foi nascendo um bichinho da comédia e, apesar de não me considerar humorista, gosto de experimentar os vários formatos do humor. Mas continua a ser, principalmente, um hobbie, já que continuo a trabalhar na área da informática a tempo inteiro e faz-me sempre soltar uma gargalhada quando alguém comenta na página «Vai mas é trabalhar em vez de fazeres vida a escrever merda no Facebook.». São pessoas que pensam que o like vale dinheiro e por isso é que põem naquelas fotos de crianças subnutridas de África e pensam que estão a ser boas pessoas e a ajudar o mundo.

Os engenheiros informáticos são muitas vezes tidos como nerds e “choninhas”, o que se passou contigo?
Nunca fui muito nerd, por exemplo, nunca joguei World of Warcraft e perdi a virgindade antes dos 30, mas sempre fui bastante choninhas, pelo menos até chegar à faculdade. Não por ser um banana, mas porque era tímido e introvertido, ainda sou, mas menos e talvez fosse esse o catalisador para o humor já que não há defesa melhor quando se é choninhas. E esse estereotipo sobre os informáticos está a mudar, são os novos rock stars e estão a conquistar o mundo. Daqui a uns anos nas escolas os bullies vão ser os nerds que vão perguntar aos outros «Como assim, não gostas de jogar Minecraft? Ganda gay!».


Escreves frequentemente sobre a Buraca, o facto de teres crescido lá deu-te bagagem para a Comédia?
Não sei se me deu ferramentas, mas deu-me boas histórias e experiências sobre as quais posso falar. Acho que me deu especialmente bagagem pessoal, foi o meu Ultramar. Fez também de mim melhor pessoa e mais generoso, porque viver ali paredes meias com pessoas que vivem com muitas dificuldades, ensinou-me desde cedo que era muito importante eu dar um pouco de mim aos outros, até porque se não o fizesse levava uma facada no bucho.


Há quanto tempo é que o humor te acompanha?
Já respondi a isto na primeira pergunta e acho de muito mau tom estares a fazer com que me repita.

Seres autor de um dos blogues mais vistos a nível nacional enche-te o ego?
Todos vivemos para o aplauso, quer gostemos de o admitir ou não e é óbvio que me deixa satisfeito esse facto. Se me enche o ego? Um bocadinho, mas relativizo sempre. Likes e views são só isso e as pessoas que seguem gostam do que escrevo, mas não querem saber de mim para nada, não são minhas fãs, e ainda bem. Ainda hoje acho que 150 mil dos 180 mil seguidores são perfis falsos que a minha mãe cria só para eu me sentir bem e depois passa o dia a fazer refresh no meu blogue para eu achar que tenho muitas visualizações.

Quando te lançaste no mundo da escrita, no blogue, imaginavas o sucesso?
Nem por sombras. Nunca foi mesmo o meu objectivo ter seguidores e nunca imaginei que chegasse onde está neste momento, especialmente em tão pouco tempo. Viste o que eu fiz aqui? Fui humilde e gabarolas ao mesmo tempo. Sou muita forte nisso. Fiz o blogue por acaso e, inicialmente, era para partilhar com os meus amigos no Facebook e nunca fiz para chegar a mais gente, nunca pedi a ninguém para partilhar nem nada disso. Acabou por acontecer naturalmente e fui apanhado na curva. Só faz com que me motive a escrever mais e regularmente.

E o livro? O sucesso significa a necessidade que os portugueses têm de se rir?
Acho que todas as pessoas inteligentes têm necessidade de ser rir e gostam de o fazer e em Portugal também há dessas pessoas. Nunca tinha pensado em ter um livro editado, mas a editora convidou-me e pareceu-me que fazia sentido no seguimento do blogue. Mais virão, em breve.

Por falar Noutra Coisa não tem tabus, isso já te trouxe alguns dissabores?
Não. As ofensas, ameaças de porrada, e até de morte fazem parte. É sinal de que quando toco em assuntos sensíveis os argumentos usados foram bons. Não quero agradar a toda a gente, nem à maioria, e gosto de ver a casa a arder. Há uma tia que já não me fala por causa de coisas que eu escrevi, mas isso não é um dissabor, é uma excelente maneira de ter uma forma de fazer triagem às pessoas com as quais vale a pena perder o meu tempo. Mesmo que um dia alguém me chegue a dar um sopapo na boca, vai ser, certamente, uma boa história para depois contar.

Quais são os temas que consideras que geram mais polémica?
Futebol, Fátima e sushi. E gatos. Nunca digam mal de gatos.

É raro falares de desporto, achas que é um tema demasiado sensível ou é por seres do Sporting?
Não tem nada a ver com o facto de ser sensível, há muitos humoristas que fazem piadas com futebol todos os dias e têm muito mais jeito para isso do que eu. O facto de ser do Sporting até seria um bónus porque é muito mais fácil fazer piadas com o meu clube que é o que tem ganho menos nos últimos anos. Quando me ocorre uma boa piada sobre futebol faço-a, mas não ando a percorrer as notícias à procura de um tema quente do mundo do futebol para falar. Embora na tua pergunta tenhas falado de desporto e não de futebol, parti do princípio que era dessa modalidade que falavas. Espero que não estivesses a pensar que o bilhar ou ténis de mesa fosse um assunto sensível. Se bem que se me ameaçaram por fazer piadas com quem gosta de sushi, já acredito em tudo.

O que é preciso para que um texto seja bem-sucedido?
Ainda não descobri a receita. Há textos que acho que vão ter muitas partilhas e leituras e depois não acontece, e muitas vezes acontece também o contrário. Acho que tem de estar bem escrito, começar bem para prender a atenção, e terminar forte para que as pessoas o queiram partilhar. Em termos de temas, acho que são mais os de atualidade ou de temáticas do quotidiano com as quais a maioria de identifica. Há quem diga que na Internet nos textos muito longos não funcionam tão bem, mas comigo acho que os maiores são os que as pessoas gostam mais de ler.

Para ti, as pessoas são o teu público ou as personagens dos teus textos?
Não percebi a pergunta, estás armado em Daniel Oliveira com perguntas filosóficas e depois dá nisto.

O que te falta fazer?
Falta tudo. Quero continuar a escrever e a editar livros, compilações e originais, estou a terminar uma série de sketches que deverá estrear em Setembro. Vou começar um podcast e continuar com o stand up comedy. Depois, logo se vê. Quero testar-me nos vários formatos do humor, mas o que sei que vou continuar a fazer é escrever. Falta-me também fazer uma orgia com a equipa feminina de voleibol da Suécia.

O que é que tens a dizer ao jovem que se matriculou em Engenharia Informática?
Os meus pêsames.

Ser criança era pensar que o melhor estava para vir, quando o estávamos a viver no momento.
Ser criança era não ter que pensar, era viver livre, era ver as coisas como elas realmente são, era ser irracionalmente racional.
Ser criança era não ter que tomar decisões, a não ser a escolha entre um jogo de tabuleiro ou as "caçadinhas", por vezes uma escolha difícil dada a efemeridade do tempo.
Ser criança era mudar as regras ou simplesmente bani-las.
Ser criança era não saber a diferença entre o bem e o mal, porque agir somente era a solução.
Ser criança era não querer ir para a escola e fingir que doía a barriga
Ser criança era acordar cedo ao fim de semana para ver Batatoon, acordando a família toda.
Ser criança era amuar quando nos contrariavam.
Ser criança era ter medo do escuro, era ter medo que algum monstro estivesse debaixo da cama.
Ser criança era não ter que fazer, não ter medo de dizer, era perguntar porquê, porque tudo tinha que ter uma razão de ser, embora os adultos, essa espécie que pensa, nos quisessem esconder.
Ser criança era cair, ficar esvaído em sangue e dizer que não doía porque não se pode desperdiçar o tempo para brincar.
Ser criança era aprender a andar de bicicleta.
Ser criança era sair de casa limpo e chegar "tatuado"com belíssimas nódoas
Ser criança era fazer asneiras e esconder as provas.
Ser criança era rir, era chorar, era chorar a rir e rir de tanto chorar.
Ser criança era ser ingénuo, era ser enganado quando não sabíamos ler e avançavam páginas nas histórias que nos liam.
Ser criança era fugir das funcionárias da escola que corriam atrás de nós com a vassoura em punho.
Ser criança era ser expulso da biblioteca por não compreender o porquê de estar em silêncio quando se podia estar a conviver.
Ser criança era ter um lápis com a tabuada, sabendo que não o podia usar nas provas.
Ser criança era querer tudo o que passava na publicidade pelo Natal, argumentando que toda a gente tinha mesmo que não soubesse para que servia
Ser criança era ter como maior rebeldia trocar "bilhetinhos" nas aulas sem a professora ver.
Ser criança não era, ser criança é, porque ser sempre a criança que acha que tudo tem o seu lado positivo, que tudo é motivo de chacota, que tudo deve ser aproveitado ao minuto e sobretudo que viver como uma criança é ser, definitivamente mais feliz, é a melhor forma de enfrentar um mundo de adultos que se dizem politicamente corretos, politicamente justos e que, contudo, são apenas politicamente infelizes