Vivo na esperança de viver intensamente a vida, como se estar à espera fosse a solução de viver.
Incessantemente vivo, ando por aí de mochila ás costas sem destino certo, fotografando cada pormenor da natureza, observando cada rosto e ouvindo cada suspiro. Sinto o cheiro nauseabundo destas ruas escuras como se algo se estivesse a decompor.
Vivo, sempre nesta mistura de sensações em que os olhos não veem o ar que respiro e os ouvidos não ouvem o que o coração sente...
Esta melancolia das sensações em que sentir é viver do mesmo jeito que viver é sentir.


A pedido de muitas familias estou a escrever, a escrever sobre nada porque me falta imaginação, no entanto estou a preencher este espaço em branco com um produtivo e pensado texto sobre nada.
Bem, podia estar aqui a dizer que não sei nem como, nem sobre o que escrever, todavia, é exatamente isso que estou a fazer.
Se bem que ao proferir estas afirmações já estou a fazer ambas as coisas (e em simultâneo). estou a escrever no tablet e sobre um tema bem definido: nada.
Confusos? Também eu


«Com 18 anos, considero-me um jovem igual a tantos outros, com o privilégio único de ter esta paixão pela escrita.» Assim se auto-retrata André Vilar, na contracapa da sua primeira obra literária Escrita Incerta, uma colectânea de poemas apresentada ao público na noite de 20 de Março, na Escola Básica da Boavista, freguesia de Santa Eulália. Uma opção do jovem autor, porque foi aqui que o ex-aluno do curso de Línguas e Humanidades da Escola Secundária de Arouca e hoje estudante de Gestão do Património na Universidade do Porto, aprendeu as primeiras letras.

Perante um vasto auditório, que contou com a presença da vice-presidente da Câmara Municipal de Arouca e vereadora da Cultura, Margarida Belém, e do presidente da Junta de Freguesia, Hélio Soares, entre outras entidades, a apresentação do autor e da obra estiveram a cargo da sua professora de Português no ensino secundário, Manuela Borges, e do representante da editora Lugar da Palavra, João Carlos Brito.

«Fui testemunha da paixão que o André sempre sentiu pela escrita. É um jovem com espírito de iniciativa, com visão de futuro e com vontade própria», referiu a docente. «Um dia, no fim de uma aula, procurou-me para me mostrar um caderno, o seu gosto pela escrita e sobretudo pela poesia. Fiquei surpreendida quando li tudo quanto escrevia e disse-lhe que considerava que aqueles escritos não deviam ficar fechados numa gaveta». E não ficaram, «graças à tenacidade do André». Nascia assim Escrita Incerta, cujos traços foram vincados por Manuela Borges: «Neste livro, o André tem construído as suas certezas a partir das suas incertezas. Cada estrofe surge num estilo livre e solto onde verso após verso se desenha na imaginação o quotidiano do André».

Sensibilizado com o apoio prestado pela Junta de Freguesia - «um bom exemplo do que é acreditar nos jovens e na cultura, um procedimento que não é muito comum no nosso país» - João Carlos Brito enalteceu a iniciativa e realçou as virtudes do autor. «Não é qualquer jovem com 18 anos que ousa publicar um livro, que ousa expor-se e partilhar com os leitores as suas preocupações sociais e sentimentais, as suas reflexões, a sua filosofia. Com esta publicação, passaram a ser propriedade de toda a gente».

Em declarações ao RODA VIVA, Hélio Soares salientou a relevância cultural do evento para a freguesia e para o município. «Estamos sempre prontos para apoiar este tipo de iniciativas, tanto mais que se trata de um jovem da nossa freguesia, com ideias muito claras daquilo que pretende fazer. Fizemos tudo para que este momento cultural e o desejo do André se tornassem realidade e por isso preparamos este evento com todo o gosto. Não poderíamos deixar de dar este incentivo a um jovem do nosso concelho».

O autor, que vê no poeta Fernando Pessoa «um génio», agradeceu a todos quantos contribuíram para a concretização da sua primeira obra, e recordou ainda a professora Alda, que, na escola da Boavista, o iniciou nas primeiras palavras.

«Os poemas que estão neste livro são todos actuais. O meu ponto de partida é o quotidiano das pessoas. Os poemas são uma parte de mim que não está acabada», referiu o autor, que perspectiva ainda desenvolver outra das suas motivações: «construir uma carreira ligada à escrita e à Comunicação».
2015-03-22 Manuel Matos Sousa (texto e fotos)

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Silenciosa, retratando uma vida 
Ou somente incerta 
A poesia é assim mesmo 
Codificada, mas certa 

A melhor forma de mostrar
O que se vê ou se sente 
É viver a vida no momento 
É aproveitar o presente

É um som contínuo
É um som penetrante
Que por mais singelo
É recebido como diamante