Ser criança na mudança do século

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Ser criança era pensar que o melhor estava para vir, quando o estávamos a viver no momento.
Ser criança era não ter que pensar, era viver livre, era ver as coisas como elas realmente são, era ser irracionalmente racional.
Ser criança era não ter que tomar decisões, a não ser a escolha entre um jogo de tabuleiro ou as "caçadinhas", por vezes uma escolha difícil dada a efemeridade do tempo.
Ser criança era mudar as regras ou simplesmente bani-las.
Ser criança era não saber a diferença entre o bem e o mal, porque agir somente era a solução.
Ser criança era não querer ir para a escola e fingir que doía a barriga
Ser criança era acordar cedo ao fim de semana para ver Batatoon, acordando a família toda.
Ser criança era amuar quando nos contrariavam.
Ser criança era ter medo do escuro, era ter medo que algum monstro estivesse debaixo da cama.
Ser criança era não ter que fazer, não ter medo de dizer, era perguntar porquê, porque tudo tinha que ter uma razão de ser, embora os adultos, essa espécie que pensa, nos quisessem esconder.
Ser criança era cair, ficar esvaído em sangue e dizer que não doía porque não se pode desperdiçar o tempo para brincar.
Ser criança era aprender a andar de bicicleta.
Ser criança era sair de casa limpo e chegar "tatuado"com belíssimas nódoas
Ser criança era fazer asneiras e esconder as provas.
Ser criança era rir, era chorar, era chorar a rir e rir de tanto chorar.
Ser criança era ser ingénuo, era ser enganado quando não sabíamos ler e avançavam páginas nas histórias que nos liam.
Ser criança era fugir das funcionárias da escola que corriam atrás de nós com a vassoura em punho.
Ser criança era ser expulso da biblioteca por não compreender o porquê de estar em silêncio quando se podia estar a conviver.
Ser criança era ter um lápis com a tabuada, sabendo que não o podia usar nas provas.
Ser criança era querer tudo o que passava na publicidade pelo Natal, argumentando que toda a gente tinha mesmo que não soubesse para que servia
Ser criança era ter como maior rebeldia trocar "bilhetinhos" nas aulas sem a professora ver.
Ser criança não era, ser criança é, porque ser sempre a criança que acha que tudo tem o seu lado positivo, que tudo é motivo de chacota, que tudo deve ser aproveitado ao minuto e sobretudo que viver como uma criança é ser, definitivamente mais feliz, é a melhor forma de enfrentar um mundo de adultos que se dizem politicamente corretos, politicamente justos e que, contudo, são apenas politicamente infelizes

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