Entrevista #1 Guilherme Duarte

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Guilherme Duarte é um Engenheiro Informático de formação e...de profissão.

Rompeu com os ideais de que os informáticos são sempre calados e tímidos e conquistou a blogosfera com o mediático Por Falar Noutra Coisa.

Consegue aliar a crítica social ao bom humor e a crítica explicita nos seus textos já lhe trouxe ameaças de porrada e de morte, ao que parece não foram, até agora, consumadas.

Em 2015 publicou o seu primeiro livro, a convite da editora.

Hoje faz Stand-up e ideias para novos textos não lhe faltam.

Não gosta que o tratem por você porque o faz sentir velho, considera que dar gorjetas e ser cavalheiro é uma mera parvoíce e acredita verdadeiramente que há pessoas que não têm noção.

Por falar Noutra Coisa, o blogue, é já conhecido pela generalidade  dos portugueses, tendo conquistado um lugar no pódio entre os blogues mais vistos a nível nacional.

Nesta entrevista, o lado mais intimista do Guilherme... ou não!


Engenheiro informático de formação, onde é que entra o Humor?
O humor sempre esteve presente na minha vida, desde cedo que me lembro de ler Calvin & Hobbes ou de seguir religiosamente o Herman Enciclopédia. Sempre gostei de programas e séries de humor e nunca me imaginei a entrar nesse mundo sem ser como espectador. Há uns dois anos e pouco acabou por acontecer por acaso, criei o blogue e a página do Facebook, e fui escrevendo umas coisas. Experimentei fazer stand up comedy e foi nascendo um bichinho da comédia e, apesar de não me considerar humorista, gosto de experimentar os vários formatos do humor. Mas continua a ser, principalmente, um hobbie, já que continuo a trabalhar na área da informática a tempo inteiro e faz-me sempre soltar uma gargalhada quando alguém comenta na página «Vai mas é trabalhar em vez de fazeres vida a escrever merda no Facebook.». São pessoas que pensam que o like vale dinheiro e por isso é que põem naquelas fotos de crianças subnutridas de África e pensam que estão a ser boas pessoas e a ajudar o mundo.

Os engenheiros informáticos são muitas vezes tidos como nerds e “choninhas”, o que se passou contigo?
Nunca fui muito nerd, por exemplo, nunca joguei World of Warcraft e perdi a virgindade antes dos 30, mas sempre fui bastante choninhas, pelo menos até chegar à faculdade. Não por ser um banana, mas porque era tímido e introvertido, ainda sou, mas menos e talvez fosse esse o catalisador para o humor já que não há defesa melhor quando se é choninhas. E esse estereotipo sobre os informáticos está a mudar, são os novos rock stars e estão a conquistar o mundo. Daqui a uns anos nas escolas os bullies vão ser os nerds que vão perguntar aos outros «Como assim, não gostas de jogar Minecraft? Ganda gay!».


Escreves frequentemente sobre a Buraca, o facto de teres crescido lá deu-te bagagem para a Comédia?
Não sei se me deu ferramentas, mas deu-me boas histórias e experiências sobre as quais posso falar. Acho que me deu especialmente bagagem pessoal, foi o meu Ultramar. Fez também de mim melhor pessoa e mais generoso, porque viver ali paredes meias com pessoas que vivem com muitas dificuldades, ensinou-me desde cedo que era muito importante eu dar um pouco de mim aos outros, até porque se não o fizesse levava uma facada no bucho.


Há quanto tempo é que o humor te acompanha?
Já respondi a isto na primeira pergunta e acho de muito mau tom estares a fazer com que me repita.

Seres autor de um dos blogues mais vistos a nível nacional enche-te o ego?
Todos vivemos para o aplauso, quer gostemos de o admitir ou não e é óbvio que me deixa satisfeito esse facto. Se me enche o ego? Um bocadinho, mas relativizo sempre. Likes e views são só isso e as pessoas que seguem gostam do que escrevo, mas não querem saber de mim para nada, não são minhas fãs, e ainda bem. Ainda hoje acho que 150 mil dos 180 mil seguidores são perfis falsos que a minha mãe cria só para eu me sentir bem e depois passa o dia a fazer refresh no meu blogue para eu achar que tenho muitas visualizações.

Quando te lançaste no mundo da escrita, no blogue, imaginavas o sucesso?
Nem por sombras. Nunca foi mesmo o meu objectivo ter seguidores e nunca imaginei que chegasse onde está neste momento, especialmente em tão pouco tempo. Viste o que eu fiz aqui? Fui humilde e gabarolas ao mesmo tempo. Sou muita forte nisso. Fiz o blogue por acaso e, inicialmente, era para partilhar com os meus amigos no Facebook e nunca fiz para chegar a mais gente, nunca pedi a ninguém para partilhar nem nada disso. Acabou por acontecer naturalmente e fui apanhado na curva. Só faz com que me motive a escrever mais e regularmente.

E o livro? O sucesso significa a necessidade que os portugueses têm de se rir?
Acho que todas as pessoas inteligentes têm necessidade de ser rir e gostam de o fazer e em Portugal também há dessas pessoas. Nunca tinha pensado em ter um livro editado, mas a editora convidou-me e pareceu-me que fazia sentido no seguimento do blogue. Mais virão, em breve.

Por falar Noutra Coisa não tem tabus, isso já te trouxe alguns dissabores?
Não. As ofensas, ameaças de porrada, e até de morte fazem parte. É sinal de que quando toco em assuntos sensíveis os argumentos usados foram bons. Não quero agradar a toda a gente, nem à maioria, e gosto de ver a casa a arder. Há uma tia que já não me fala por causa de coisas que eu escrevi, mas isso não é um dissabor, é uma excelente maneira de ter uma forma de fazer triagem às pessoas com as quais vale a pena perder o meu tempo. Mesmo que um dia alguém me chegue a dar um sopapo na boca, vai ser, certamente, uma boa história para depois contar.

Quais são os temas que consideras que geram mais polémica?
Futebol, Fátima e sushi. E gatos. Nunca digam mal de gatos.

É raro falares de desporto, achas que é um tema demasiado sensível ou é por seres do Sporting?
Não tem nada a ver com o facto de ser sensível, há muitos humoristas que fazem piadas com futebol todos os dias e têm muito mais jeito para isso do que eu. O facto de ser do Sporting até seria um bónus porque é muito mais fácil fazer piadas com o meu clube que é o que tem ganho menos nos últimos anos. Quando me ocorre uma boa piada sobre futebol faço-a, mas não ando a percorrer as notícias à procura de um tema quente do mundo do futebol para falar. Embora na tua pergunta tenhas falado de desporto e não de futebol, parti do princípio que era dessa modalidade que falavas. Espero que não estivesses a pensar que o bilhar ou ténis de mesa fosse um assunto sensível. Se bem que se me ameaçaram por fazer piadas com quem gosta de sushi, já acredito em tudo.

O que é preciso para que um texto seja bem-sucedido?
Ainda não descobri a receita. Há textos que acho que vão ter muitas partilhas e leituras e depois não acontece, e muitas vezes acontece também o contrário. Acho que tem de estar bem escrito, começar bem para prender a atenção, e terminar forte para que as pessoas o queiram partilhar. Em termos de temas, acho que são mais os de atualidade ou de temáticas do quotidiano com as quais a maioria de identifica. Há quem diga que na Internet nos textos muito longos não funcionam tão bem, mas comigo acho que os maiores são os que as pessoas gostam mais de ler.

Para ti, as pessoas são o teu público ou as personagens dos teus textos?
Não percebi a pergunta, estás armado em Daniel Oliveira com perguntas filosóficas e depois dá nisto.

O que te falta fazer?
Falta tudo. Quero continuar a escrever e a editar livros, compilações e originais, estou a terminar uma série de sketches que deverá estrear em Setembro. Vou começar um podcast e continuar com o stand up comedy. Depois, logo se vê. Quero testar-me nos vários formatos do humor, mas o que sei que vou continuar a fazer é escrever. Falta-me também fazer uma orgia com a equipa feminina de voleibol da Suécia.

O que é que tens a dizer ao jovem que se matriculou em Engenharia Informática?
Os meus pêsames.

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