Ao Avô!

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Só hoje escrevo, não sei se mais uma vez por falta de coragem ou se ainda não estou conformado com sua partida.

Recordo aquelas conversas sobre tudo, os pontos de vista divergentes e as lições de vida.

Gostava de o ouvir falar da sua vida e das suas histórias de uma vida apaixonada pela família, pela terra, pelos animais e pelo Benfica.

Tenho em si uma referência, um trabalhador e recordo o seu semblante feliz quando estava a trabalhar, língua de fora e de enxada em punho, será para sempre uma imagem que guardarei.

Quando completou 80 anos disse que já morreria feliz porque era o seu grande objetivo e nesse mesmo dia escrevi-lhe um poema que nunca lhe entreguei, embora o tenha guardado até hoje.


Doze filhos e dezasseis netos
Numa vida completa
70200 dias passados
E os anos já são oitenta

Dedicado à agricultura
A semear e a colher
Viveu sem fartura
E com tanto para fazer

De opinião formada
Conversa para várias horas
Desde política ao futebol
São as leis e as bolas fora

Um brilho constante no olhar
Quando a família reunida
Por cada neto alegria crescente
Desde a chegada até à partida


 Estive consigo no seu último dia terreno e vi que estava particularmente feliz, estava sol, tinha passado a manhã a passear e estava a descansar para depois ir tratar dos seus animais.

Talvez o passeio tenha sido uma verdadeira despedida desta terra que foi sempre sua e quero acreditar que hoje está bem, volta a estar um dia de sol, o Benfica está à frente do campeonato e o seu Arouca está a um passo da Europa.

Vou sentir falta das conversas, do tempo ganho em experiência e do rasgado sorriso acompanhado de um “Olha quem cá veio ver o velhote!”, ou o “Olha o André!”, sempre que à sua beira chegava.

Não esquecerei o brilho dos seus olhos claros e, talvez um dia nos reencontremos para pormos a conversa em dia.




Até lá, ficam as memórias e a saudade, avô!

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